sexta-feira, 30 de junho de 2017

O fim do império industrial de Tomar

Hoje é o último dia de funcionamento da fábrica de papel do Prado, em Tomar. Mais do que o fecho de uma empresa, o encerramento da Prado Karton representa o fim da grande indústria tomarense. É a morte anunciada do último bastião depois do fecho da Matrena, Fábrica de Fiação, Porto de Cavaleiros, Mendes Godinho e outras.

245 anos depois, a fábrica do Prado deixa de laborar aumentando a estatística do desemprego com mais 72 sem trabalho. Isto sem contar com os postos de trabalho indiretos que são afetados e toda uma economia que girava à volta daquela fábrica.
Alegadamente por falta de viabilidade económica, a administração da empresa decidiu avançar para a insolvência.
O futuro é incerto. Seguem-se os trâmites nos tribunais, as assembleias de credores e a venda dos bens móveis e imóveis da empresa para pagar as dívidas.
Na fábrica existe um museu do papel com o qual ninguém parece preocupado. É um espólio valioso que merecia a atenção dos responsáveis autárquicas de um concelho que chegou a ter em funcionamento cinco fábricas de papel.
A fábrica do Prado foi fundada por alvará de Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal), assinado a 2 de julho de 1772.
Chega ao fim um ciclo da indústria tomarense. E Tomar fica mais pobre.

Com base num comunicado da administração da Prado Karton, a agência Lusa publicou na quarta feira, dia 28, uma notícia que a seguir transcrevemos:
Administração da Prado Karton pede insolvência da empresa
A administração da Prado Karton decidiu avançar com o pedido de insolvência da sociedade, depois de não ter sido possível apresentar um plano de recuperação que garantisse a sua viabilidade, anunciou hoje a empresa de cartão de Tomar.
Em comunicado, a empresa adianta que, "apesar de todos esforços realizados, não foi possível apresentar um plano de recuperação que assegurasse a viabilidade da empresa".
Desde que a administração entrou em funções, em abril do ano passado, "foi implementado um processo de reestruturação, que implicou uma injeção de fundos de mais de dois milhões de euros, nomeadamente do acionista, possibilitando o retomar da atividade industrial que se encontrava parada há mais de cinco meses, bem como desenvolver uma nova oferta de produtos de maior valor acrescentado da gama `kraft` [tipo de papel], reconquistar clientes através de um significativo investimento comercial e financiar a tesouraria e atividade corrente, assegurando-se a manutenção de 72 postos de trabalho".
Perante este investimento, prosseguiu a administração, "as atividades produtivas foram reiniciadas em abril de 2016 com uma produção brutal mensal de cerca de 250 toneladas, atingindo-se, cerca de um ano depois, uma produção bruta mensal de 1.900 toneladas", acrescentando que "ao longo deste período foram recuperadas relações comerciais com clientes que tinham abandonado a empresa e angariados novos clientes, tendo sido possível atingir um volume de negócios mensal superior a um milhão de euros".
No entanto, "apesar do crescimento da atividade e da melhoria operacional, a empresa continuou a apresentar prejuízos significativos, fundamentalmente, justificados pela inesperada evolução gravosa das condições de mercado".
A Prado Karton registou, desde o início deste ano, "um aumento superior a 15% do preço das principais matérias-primas, não sendo possível refletir tal aumento de custos nos preços de venda".
A administração acrescentou que, "adicionalmente, a empresa passou a enfrentar uma enorme dificuldade de abastecimento de matéria-prima para os produtos `kraft` devido à escassez de oferta a nível mundial, implicando importações de mercados mais longínquos com impactos negativos, nomeadamente a nível da tesouraria e de capacidade concorrencial".
Ora, os resultados até final de maio vieram demonstrar "um cenário insustentável que, apesar de todas as medidas implementadas, inviabiliza os pressupostos do Plano de Recuperação em elaboração".
A administração da Pardo Karton garantiu, no comunicado, que "ainda procurou alternativas, nomeadamente a obtenção de um financiamento e/ou realização de um aumento de capital com a entrada de um parceiro estratégico, mas apesar de todos os esforços realizados não foi possível encontrar uma solução".
No sentido de "proteger os interesses dos trabalhadores, que se empenharam de forma exemplar no processo de tentativa de revitalização de uma empresa cuja atividade se encontrava parada, bem como dos demais `stakeholders` [partes envolvidas], nomeadamente dos pequenos fornecedores, foi decidido avançar com o pedido de insolvência".
Lamentando "profundamente este desfecho", a administração da Prado Karton diz estar "convicta" de que esta decisão "é a que mais beneficia os trabalhadores e demais credores, dado que permite proteger o ativo da empresa, acrescentando que a fábrica de Tomar suspende a sua atividade, "estando já assegurado o pagamento dos salários referentes ao presente mês de junho, o qual será realizado ainda esta semana".


Uma reportagem da RTP de 1977



Uma reportagem de 2012


Imagens do museu da fábrica de papel do Prado

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